quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

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Hoje uma senhora veio ao meu encontro no meio da rua. Pela revista que tinha na mão topei logo que era testemunha de Jeová ou assim uma merda mas não fiz má cara e deixei que me falasse. Afinal de contas sou um gajo todo para a frentex e não me limito às minhas ideias. Podia ser que fosse esta velha de bengala e bigode a mudar a minha vida e me tornasse num crente seja lá no que for; podia ser que fosse o destino. Também não acredito nisto mas se fosse até lhe dava uma oportunidade. Perguntou-me se eu tinha um minuto e eu disse que sim embora já soubesse qual era a cantiga que me iam cantar. Depois de terminar a converseta mais que ensaiada a carcaça calou-se e ficou com um sorriso parvo à espera de uma resposta. Daqueles sorrisos que só um morto nos dá se lhe esticarmos as pontas da boca com a ponta dos dedos. O problema é que depois ficamos com os dedos frios o que é desconfortável, além do sorridente cadáver à nossa frente que também não deve ser lá grande refrigério. Bem, a minha resposta foi "eu não acredito em deus, desculpe". A senhor disse "está bem" e virou-me as costas. Vaca! E eu parvo por pedir desculpa sem ter culpa. A velha não se empenhou minimamente em me converter e sem meias medidas virou as costas e foi à sua vida, que é como quem diz: foi para casa rezar e comer peixe cozido enquanto vê uma novela ranhosa qualquer da Rede Record. A dos vampiros e mutantes era muito boa. Se calhar não era sobre vampiros e mutantes mas era das boas. O trabalho da senhora foi muito medíocre, tendo em conta o objectivo, claro. Espalhar a palavra de Jeová no meio da rua à chuva e ao frio, com um buço nojento e ainda por cima manca não deve ser fácil mas um esforçozinho nunca fez mal a ninguém. Basta ver o Rui Patrício que apesar do mongolismo e de não conseguir fechar a boca, com algum esforço lá chegou a guarda-redes principal do Sporting. Tornou-se, portanto, óbvio que a senhora não tinha um segundo discurso preparado para o caso de uma nega e nem sequer me elogiou, só naquela a ver se pegava. Não, nada. Uma lenga-lenga atabalhoada, um sorriso feio e irritante e pronto, está feito. Mesmo naquela do "não queres não comes". Ridícula e sem calhestro foi o que foi esta tentativa de conversão. Só não foi pior porque na altura estava a pensar na Jessica Gomes e em moussaka de cavalo.

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