terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Rumpus

Há uns dias vi o Where the Wild Things Are e gostei. Nesse mesmo dia vi o Antichrist mas não me apetece falar dele, deixo a quem de direito ou prazer (provavelmente uns intelectualóides quaisquer que passam a vida a beijar o cu a filmes existencialistas ou o caralho) se ache suficientemente capaz para falar de um filme do qual eu apenas consigo dizer que gostei das cenas a preto e branco. Quanto a mim o resto do filme é manhoso e eu até gosto de filmes manhosos, mas deste não. É manhoso do género "ah, 'tá certo então. Pois, é arte já entendi oh artista". Bem, continuando. A adaptação do livro infantil para cinema é boa, acho-a muito boa até mas isto não surpreende tendo em conta que falamos do mesmo gajo que realizou o Adaptation (também gosto do Being John Malkovich mas este é melhor). Todos os filmes que (também) são para crianças deviam ser assim, pelo menos em Portugal. Já que por cá a garotada é crescida o suficiente para aprender inglês e ter um computador pessoal aos 6 anos, podia muito bem assistir a um filme sobre monstros peludos que vivem numa ilha seguindo uma forma de governo bem atraente, na qual no caso de não se gostar do trabalho do rei come-se o dito governante. E não quero com isto expressar quaisquer tendências antropofágicas. Apenas me agrada a possibilidade de na hipotética queda de um hipotético governo do Bloco de Esquerda me calhar um bocado da Joana Amaral Dias. Continuando. Há ainda que destacar um outro contraste entre o filme e o nosso país: as obras públicas. Enquanto que Max, o jovem rei, consegue pôr 7 monstros imaginários a construírem um forte feito de troncos pedra e galhos e, no meio disto tudo, ainda têm tempo para brincarem a um jogo que consiste em mandar enorme pedaços de bosta uns aos outros; por cá, mesmo pejados de pedreiros e empreiteiros e engenheiros e arquitectos e vereadores e fiscais e mais não sei quem, as obras nunca demoram o tempo previsto e, ainda por cima, se mandarmos merda a alguém fica logo tudo muito ofendido. A banda sonora, ao que parece, ficou a cargo de uma banda chamada Karen O and the Kids, que na verdade é a gaja dos Yeah Yeah Yeahs mais uns garotos a fazerem coros. Um bocado na onda de Arcade Fire mas melhor e sem a parte de parecerem todos irmãos. Eu nem sei se isto é verdade mas sempre que me lembro dos Arcade Fire penso neles como uma espécie de Kelly Family mas sem os cabelos compridos. E pronto, vejam o filme que não perdem nada e se tiverem filhos vejam com eles. Se eles ainda não conseguirem acompanhar as legendas esperem até que consigam, porque estar a repetir o que se acabou de ler no ecrã da televisão é chato e irritante e com certeza não querem que os vossos filhos pensem isso de vocês. A não ser que sejam o Cláudio Ramos. Nesse caso a certeza de que são chatos e irritantes já existe e as preocupações sobre aquilo que os vossos filhos possam achar de vocês são de outra natureza.

Bom: Where the Wild Things Are é a confirmação de que nem a fazer de bicho felpudo e aparentemente divertido o James Gandolfini consegue parecer um gajo afável. Há cenas em que se torna demasiado fácil imaginar o Carol a acabar de comer as almôndegas e a sacar de um bastão de basebol enquanto pede ao Paulie e ao Bobby ajuda para espancar o garoto. Isto pode não parecer bom a muitos de vós mas eu acho que um actor que mantém este tipo de constância nos seus desempenhos merece louvor; eu ligo à cor dos filmes e a deste agradou-me, tem muitos castanhos.

Mau: Parece-me que houve alguma prodigalidade no uso de certos recursos. Tendo em conta a presença de Forest Whitaker a interpretar um dos monstros da história, não valia a pena gastar tanto dinheiro no fato e na animação da sua personagem. Bastava colar-lhe uns cabelos ao corpo e pronto; a certa altura do filme é possível que se ponham a imaginar o cheiro que se deve sentir naquela ilha. Os bichos são enormes e há muito pêlo envolvido. Ainda assim, não se vê durante todo o filme uma única casa de banho, nem sequer um lavatório para ao menos lavarem as mãos. Nem sei como é que a mãe não se vomitou toda no fim.

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