sábado, 3 de julho de 2010

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Nunca fui criança de birras. Sei que as fiz mas no máximo pode-se dizer que fui criança de uma birra. Fiz uma birra à vinda da creche e essa chegou-me (fui levado até casa quase de rojo) para aprender que não chegarei a lado nenhum com exigências bacocas e aparatos desnecessários, que não consigo mais que os outros só por berrar e guinchar mais alto, ou se insistir naquela pose que implica cruzar os braços, franzir as sobrancelhas até doerem e segurar o lábio inferior tremelicante para conter o choro. Talvez tenha feito mais mas duvido, acredito nas histórias que me contam e é esta que ilustra o meu curto historial enquanto criança birrenta. Claro que exigências todos temos, não podemos ser todos como o Carlos Queiroz que se resigna com um Ricardo Costa ou até nem se importa com um Duda; ou como o Yannick Djaló que à primeira hipótese que teve de comer uma branca parola nem se preocupou em pedir-lhe o BI para confirmar se era a Luciana Abreu ou não. Mas, enfim, como eu dizia todos temos exigências e, em princípio, muitos serão os que as vêem a materializar-se, mais ou menos de acordo com aquilo que fazemos por elas e sem necessariamente implicar uma birra. Por exemplo, os portugueses são pouco exigentes em relação ao humor, o que é que acontece? Desde 1995 que o programa Malucos do Riso está no ar. Os portugueses são pouco exigentes em relação à política, o que é que acontece? O two-faced por excelência Freitas do Amaral ainda é tido como opinante com relevância. Os portugueses são pouco exigentes em relação aos jornais que compram, o que é que acontece? O jornal 24Horas demora 12 anos a ver o fim. E por aí fora, podia fazer uma lista enorme sobre estas merdas. Talvez não tão grande como o número de seropositivos na lista de convidados duma festa de aniversário do Elton John mas grandinha, ainda assim. Existem de facto coisas que até mereciam uma birra geral mas isso além de não as fazer desaparecer, não mudava o facto de nos comportarmos como uns fedelhos irritantes. Continuando. Qualquer pai minimamente empenhado na educação dos filhos tentará ensinar que não é através de birras e infantilidades que conseguirão resposta às suas exigências. Ao que parece, os pais do João Moutinho optaram por lhe ensinar exactamente o oposto. Pelo menos o baixote de Portimão tem-se safado com elas. Soube hoje que será contratado pelo FC Porto. Se se confirmar não tenho nada contra - business is business - mas não deixo de sentir que ser anão o tem ajudado a parecer ainda mais garoto durante esta última fase que passou no meu clube. Um dos jogadores mais regulares do campeonato e capitão de equipa (!) deixa de o ser para se tornar num suplente em potência do clube das Antas. Muito bem jogado, Joãozinho. Claro que vão haver adaptações a fazer na mudança para o Porto: em vez do Happy Meal no McDonalds de Alvalade passa a pedir meia francesinha num tasco qualquer na Rotunda da Boavista e agora sempre que precisar de ajuda para roubar doces na mercearia ou não gostar do modo como os outros meninos o tratam no recreio pode pedir ajuda ao macaco dos Super Dragões. Já imagino o Bettencourt a tentar controlar o petiz à porta do Alvalaxia, qual progenitor divorciado que ficou com os garotos no fim de semana, à espera que o Pinto da Costa (o outro progenitor) apareça no seu SUV familiar cheio de coisas do SpongeBob no banco de trás, e leve o rapazinho que chora e rebola enquanto bate com os punhos no chão e gasta os remendos do Dragon Ball aplicados na zona dos joelhos. Eu acho que o Moutinho se vai dar bem pelo Porto, haverão outros meninos da idade dele para brincar e se não houverem pode sempre jogar umas partidas de damas na internet com o Miguel Veloso. Talvez até jogue à bola de vez em quando e tudo. E quando fizer outra birra e quiser sair, logo aparecerá alguém a limpar-lhe a baba e o ranho da cara e pagar-lhe um sorvete para acalmar as coisas. Apesar do negócio não estar ao nível das compras de garotos que a Madonna e a Angelina fazem por países pobres, não me parece mau de todo: sai um garoto, entram uns milhões. Podem até não ser muitos mas basta lembrar que quando vamos a um restaurante e pedimos uma meia-dose super barata, daquelas que vêm em pratinhos pequenos, e ficamos com fome, mesmo com o buraco no estômago achamos sempre que foi um bom negócio. E desta vez ninguém fica com um buraco no estômago.

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