sábado, 28 de janeiro de 2012

Where's the deluxe version?

Não escrevo sobre um filme há imenso tempo. Em parte porque não tenho acompanhado as novidades e porque do que tenho visto quando são bons são velhos e quando são novos são uma desilusão e não merecem o esforço destes dedos sobre as teclas. Mas como entre as coisas que sei se encontra a data da cerimónia dos Oscares decidi dar mais uma oportunidade a Hollywood e amiguinhos e ver uns quantos que me foram sendo aconselhados e outros tantos que escolhi por mim, sozinho e com uma autonomia de fazer inveja ao sistema nervoso do Stephen Hawking. A outra razão prende-se com o facto de uma força estranha e munida de uma esponja extremamente eficaz ter ressequido o meu humor verborreico de tal forma que agora tem estrias e faz eco. Parece um cofre do Sporting ou a cabeça da Luciana Abreu ou a Luciana Abreu dentro dum cofre do Sporting a escolher o nome da próxima filha. Nestes últimos tempos não tenho passado de um velho rezingão que não gosta de nada, diz mal de tudo e detesta pessoas e que bebe demasiado tendo em conta a altura do ano. Um velho rezingão preso no corpo de um rapazinho esbelto e cuidado, de porte interessante, modesto e que não gosta de nada, diz mal de tudo e detesta pessoas e vão-se mas é foder que vocês não prestam para nada, só aqui andam a ocupar espaço. Ou é isto ou então estou a desenvolver uma ligeira bipolaridade, o que é improvável até porque isso é doença de maluquinhos e se há coisa que eu detesto são doentes mentais. Sujam tudo com a baba e nunca estão penteados, credo. Não, eu se tiver uma doença hei-de manter o meu risco ao lado e há-de ser algo em grande, em bom, de homem rijo, que dê para tratar com whiskey e me faça cuspir sangue enquanto falo grosso e bafejo um charuto. Mas voltando aos filmes, hoje escrevo sobre aquele que para mim é já o primeiro flop dos nomeados deste ano (com apenas uma nomeação para os efeitos sonoros) – Drive. O filme conta a história simples de um tipo que é bom condutor, tem um blusão todo estiloso e quer comer a vizinha mas depois de ver que não consegue decide ajudar o marido cadastrado da rapariga. O acto de generosidade corre mal e a certa altura lá tem ele de fazer umas coisas que implicam conduzir (obviamente), ler mensagens num telemóvel que não lhe pertence ou martelar a mão de um careca de fato de treino. O filme tem uma estética porreirinha e umas cenas de violência impecáveis, quanto a mim apenas superadas pela banda sonora, e um rol de actores bastante apreciável com excepção de um, mas a esse já lá vamos. Logo de início com o lettering lilás pensei que me tinha enganado e que ia ver um mau filme dos anos 80 mas passada hora e meia a sensação que ficou foi a de ter assistido a um filme medíocre da década actual que poderia ser muito melhor. Boa parte dessa impressão prende-se com o desempenho do actor principal, Ryan Gosling, que no filme faz de mecânico (e duplo de cinema em part-time) mas sem o aspecto sujo e labrego dos mecânicos. Até aqui tudo bem uma vez que se trata de um filme e não de uma oficina na Brandoa e o próprio Gosling quando não está a trabalhar também não tem aspecto de actor; nem aspecto nem jeito. O adjectivo inexpressivo não é suficiente para comentar a presença do artista. Vocês podem vir com as pedras todas na mão que quiserem e dizer “ah, mas a personagem é mesmo assim, não percebes nada”, que em resposta eu posso cuspir para o chão e dizer asneiras enquanto vos viro as costas, este tipo de liberdade ainda não foi vendida pelo PSD e não há nada como terminar uma discussão com uma cuspidela arrogante. Ryan Gosling, que enquanto personagem principal até tem umas luvas catitas e um carro que sozinho conseguiria mais gajas que um estalar de dedos do Cristiano Ronaldo, passa o filme com a mesma cara que o Kim Jong-Il fez quando soube que estava morto. Isto para mim arruinou o filme, uma coisa é a personagem ser calma, estranha, usar poucas expressões faciais e ter poucas falas, outra coisa é o actor que a representa parecer apenas mais um trabalho do Sr. Chuck Testa (sim, eu conheço a internet). O resto do filme está giro, os outros actores não desiludem, o ritmo é bom, as cores também e a cena no motel merece especial destaque porque apesar de simples está muito bem feita. Só achei estranho que aquela luz a entrar no quarto e o vermelho demasiado bonito do sangue me tenha lembrado o início de um dia de Verão, uma vez que os meus verões não costumam implicar varas de cortinados partidas e sangue na cara. Eu gosto de me divertir durante a época balnear mas não exageremos. O gajo que fazia de pai em Malcom in the Middle também está porreirinho mas é só isso, como ainda não vi Breaking Bad não faço parte dos que tentam convencer meio mundo de que ele é o melhor actor do universo a protagonizar a melhor série da história. A banda sonora é que está mesmo boa com especial destaque para a participação dos Desire, College e Kavinsky, que apesar de ser francês e de todas as músicas parecerem retiradas duma cassete perdida pelo tablier do KITT, assenta que nem uma luva neste filme. É de lamentar que o realizador Nicolas Refn não tenha escolhido outro actor, depois da trilogia dos Pusher, de Bronson e de Valhalla Rising tenho pena por não usar palavras mais simpáticas para este Drive mas a verdade é que o actor de cabelo platinado estragou a festa que este filme podia ter sido. Ah, e neste vou estragar-vos o final: o gajo não morre no fim. Essa história é com o Heath Ledger e não foi bem num filme.

Bom: A banda sonora; as cenas com sangue e carros a alta velocidade; as luvas da personagem principal; a cena em que aparece um mafioso a comer comida chinesa num restaurante italiano que pertence a um judeu, se dúvidas haviam quanto à globalização esta cena desfê-las.

Mau: Ryan Gosling, Ryan Gosling e Ryan Gosling.

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