quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

The apple fell far from the tree

Devo começar por dizer que depois de confirmar que já tinha visto o The Thin Red Line, as expectativas que poderia ter para The Tree of Life rapidamente se esfumaram, qual neurónio da Luciana Abreu numa tarde quente de Verão. Ainda assim e sem quaisquer esperanças de bonança decidi ver, mais ou menos como os portugueses fazem agora com a vida; e não é que me surpreendi? Calma, a surpresa não foi como a do pequeno Charlie ao pegar no bilhete dourado sujo de chocolate, foi mais ao estilo daquelas que os gajos que saem com a filha do Nené têm no final da noite. O filme é estranho, eu percebo o contraste entre aquelas tretas naturalistas e contemplativas e a humanidade retratada da forma que Terrence Malick gosta de retratar mas o que é de mais é moléstia. A certa altura parecia que estava numa emissão do canal National Geographic, se eu quisesse ver vulcões, fundos do mar, planetas e dinossauros via o Discovery Channel que sempre é mais levezinho quanto ao rigor científico e não corria o risco de me cruzar com os sussurros do David Attenborough, até porque se há coisa que abunda neste filme é gente que fala baixinho. E há pouco leram bem: dinossauros! Eu até entendo a alusão à pré-história deixo é de perceber as pessoas que não gostaram do Jurassic Park mas lambem as bolas a este filme. Das poucas coisas que este filme garante é que se há bolas que não lamberei são as do Sr. Malick, por muito boa droga que ele possa ter. Pela quantidade de imagens seleccionadas para acompanhar as narrações mortiças das personagens só mesmo com muita e boa droga se pode achar que tal culminaria num bom exercício filosófico através da cinematografia. A história é simples (tão simples quanto a vida pode ser, ok) e isso não tem mal nenhum mas se é para convidar à reflexão através da história de uma família que perde um filho, não é necessário encher chouriços com gordura abstracta durante duas horas e tal. Novamente, se é para isso vejo um programa qualquer do National Geographic sobre África. Lá morrem muito mais crianças por hora e não tenho de levar com os óculos de massa do Brad Pitt ou o cabelo seboso do Sean Penn. Pode aparecer a Angelina Jolie à caça dum filho de uma cor que ainda não tenha mas estes não. Também compreendo que muitos elementos da classe de gente mal vivida, exemplarmente representada pelos críticos de cinema, se tenham embevecido com The Tree of Life. Afinal de contas todos sabemos que a qualidade de um filme está intimamente relacionada com o rácio entre a capacidade de agradar em exclusivo aos narizes empinados dos seus comentadores profissionais e a possibilidade de a maioria das pessoas estar-se simplesmente a cagar. Ou porque os lembra deste ou daquele elemento da epistemologia e da metafísica, ou porque fica bem usar estes conceitos como se estivessem a dizer algo profundo, ou porque a catarse é sempre uma boa desculpa para explicar um filme chato e rico em elementos aleatórios, ou porque um ou outro pormenor nos remete para mais não sei quantos realizadores geniais, enfim, as razões existem em abundância. A verdade é que também o Google todos os dias me remete para o Google+ e não é por isso que me mudei para o equivalente à Beira Interior das redes sociais. Não, The Tree of Life não me convenceu, apesar de achar que a nomeação para melhor realizador não seja totalmente absurda. Absurdo é nomear um gajo que veste os fatos do pai para o cargo de Ministro das Finanças, nomear um filme que não é do meu agrado para um prémio que já foi mais exigente, nem por isso. 

Bom: O regresso em grande do Rinaudo no jogo contra o Nacional e a banda sonora que está bem escolhida, é adequada e cheia de boa música clássica.

Mau: A cena em que a mãe aparece a voar no jardim, o que raio é aquilo?; o cabelo de um dos amigos dos garotos, se fosse eu usava boné e nunca o tirava; o excesso de murmúrios durante o filme; as refeições da família, parece que só comem enlatados.

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