sábado, 4 de agosto de 2012

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Algures durante o dia de hoje, 3 de Agosto de 2012, poderia ter havido um Rocco de quinze anos preso num corpo com mais dez. Algures encerrado entre os vales junto ao mar, por terras a que em tempos se chamaram reino de Galiza, esse Rocco poderia estar divertido e animado, quem sabe alterado, bem acompanhado, ou não, mas isso também não seria um verdadeiro problema. Com os batimentos cardíacos perto daquilo que será um pedófilo perdido numa Toys "R" Us, as sapatilhas velhas, os calções demasiado usados e demasiado curtos e uma t-shirt da Fruit of the Loom (claro) que fale sobre quem a veste se quem a ler também souber ouvir. Pó na cara e narinas enegrecidas, com o fígado a tratar da papelada necessária para a bexiga emigrar, assim poderia ser esse tal Rocco. Calmo e sereno, feliz e divertido, genuinamente divertido, provavelmente bronzeado e com um aspecto menos tuberculoso e animado pela música e pelo amor (sim, que esse tal Rocco podia estar só a falar de música mas não, agora teria o peito mais ocupado que uma Villa Amalia, fique lá onde isso ficar, que é como quem exclama "no que é que tu te foste meter, ó Grécia"). Só de pensar nela (na namorada, não na Grécia) ficaria maluco como a Ellene DeGeneres numa festa da Heidi Klum, mas enquanto a Ellene DeGeneres ficaria a escorrer pelas pernas como se estivesse a treinar a selecção de caiaque dos EUA, Rocco teria uma erecção, não pelas dezenas de mulheres que eventualmente estivessem a banhar-se na cascata da piscina da Heidi, mas porque a festa era para ajudar a combater a fome em África e isso lembrá-lo-ia da sua namorada que além de muito atraente também iria gostar de ajudar atirando comida aos pobrezinhos. 5 Pontos na cara, 3 no peito e/ou mãos, 1 nas pernas e/ou braços, se chorarem antes dos 2 minutos conta-se um ponto a cada 30 segundos depois do início do choro. Dicas: tentar sempre jogar nos escalões mais baixos que estão cheios de crianças que são mais fáceis de bater e ajudam a enriquecer o ego; se algum tentar fugir basta agitar o pacote de Maltesers congelados dentro do bolso. Num plano mais alargado, se forem jogar bowling devem envolver o corpo em papel celofane por causa da SIDA que passa entre os buracos das bolas. É preciso ter consciência que em África a SIDA passa-se, tal como o Pepe a jogar à bola ou uns gramas de droga à porta da casa do Kalú, se bem que se estão a jogar bowling algures em África e a suar em celofane enrolado por baixo da roupa é porque já devem conhecer os cantos da casa. Mas, como dizia, hoje poderia ter havido esse Rocco, um Rocco veraneante, ao sol e com praias de areia por perto, tapas à mão e mojito na mão. É certo que o café em Espanha é mau mas com a descarga de decibéis a que estaria exposto nada mais seria necessário para o manter acordado. Sejamos sinceros: não era uma nem duas nem três, eram várias as bandas e, ainda assim, havia uma mais sincera que todas as outras que o levariam até lá (e poderiam ter sido duas não fosse a outra cancelar). Mas não. Quis não sei o quê que Rocco passasse pelas ilhas de cá, essas não, as outras, mas só uma, a alta. Quis que perdesse tudo o que é do bom e do melhor durante um ano: amigos, beijinhos, passou-bem, mãos dadas, abraços, cochilos e concertos, o concerto! Que em vez de estar na fila para senhas de cerveja estivesse a passar novenas e que em vez de pulos, braços no ar e nódoas negras estivesse em casa a escrever algo parecido com isto. Isto que seria apenas mais uma desculpa de Rocco para poder queixar-se sobre o que quer que seja, não fosse o concerto de uma das suas bandas preferidas desde que se lembra de gostar de música estar neste momento a decorrer no país vizinho. 

 

Agora a sério, eu juro que se deus existir e tiver mesmo os tais desígnios, vou pedir-lhe uma cópia dos meus. Depois levo-a para casa e preparo uma refeição rápida, provavelmente de microondas ou pizza congelada. Vou analisar o documento com cuidado, se tiver necessidade pedirei ajuda para a empreitada, e vou procurar até o mais ínfimo pormenor por um erro, pois se deus existir é imperfeito e igualmente imperfeitos serão os seus registos arquivísticos de desígnios. Depois de observado e identificado o erro vou esperar pelo dia seguinte, por volta da hora de almoço, altura em que, de t-shirt branca (provavelmente Fruit of the Loom) e calções gastos e curtos vestidos e uns ténis velhos e rotos calçados, estarei à porta do escritório onde deus tenha estabelecido o seu negócio. Bato à porta, três batidas, como nos filmes, secamente repenicadas com as falanges do indicador esquerdo dobradas sobre a porta. Ele dirá para eu entrar e eu entrarei, e entre rodar a maçaneta para o lado esquerdo, fechar rapidamente a porta, saltar para cima da secretária e atacá-lo, primeiro a murro, depois com um agrafador e mais tarde com um pisa-papéis, arrancar-lhe os olhos e comer-lhe parcialmente a cara ainda irá algum tempo, mas eu não saberei precisar quanto. Irei apenas saber que é o tempo exacto, o estritamente necessário para ser declarado inimputável. Inimputável que chegue para não cumprir pena e simultâneamente não ser internado, safando-me com um castigo menor. Castigo esse que me permitirá (nunca a menos de 500m por respeito a alguma lei que se possa impor) ver deus, um deus cego e desfigurado por se ter enganado e me ter feito perder o concerto de Descendents.

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