terça-feira, 30 de outubro de 2012

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Não me considero um gajo razoável, apenas com bastante paciência. O que se passa é o meu tipo de paciência, ou melhor, os meus tipos de paciência. Tenho duas, uma nula que existe para as coisas pequenas, nada fundamental a atrapalha mas que se mantém constantemente ocupada com ninharias e tudo o que são miudezas arrepiam-na como o arco arrepiaria as cordas de um violino na ocasião de ser tocado por um rinoceronte. E depois tenho outra, a única que interessa, a paciência verdadeiramente dita: demorada, silenciosa, observadora, longa pois tudo o que é fundamental merece exacta medida; o tipo de paciência que às vezes se confunde com razoabilidade e sensatez. A primeira rebenta-me a cada 30 segundos de um jogo de futebol, a segunda rebentou ontem, Sporting. Aliás, se há virtude que não possuo é a da razão. Porque se a tivesse há muito que me teria aventurado pelo contrabando de armas online e teria adquirido um revólver para o meu bowling columbino, dentre outros sítios, em Alvalade. Sim, o teu bairro. Pelo menos parece-me bastante racional, isso de eliminar os elementos fracos para crescer melhor que depois pisca o olho na expressão popular “cortar o mal pela raiz”. Mas não é nada disso, o que se passa é que vou aguentando e vou esperando paciente, com pachorra, sem delírios nem pedras na mão. Eu espero, eu espero. Veremos, veremos. Há que esperar, há que esperar, é o que eu e muitos mais pensamos. Que ainda não chegou, que depois de um fim falta a final e a finalíssima e que nada está resolvido quando soa o apito final; que ainda há mais alguma coisa para ver… E há, porra! Infelizmente há. Quando uma festa se torna aborrecida uma pessoa que goste de se divertir sabe sempre sair a tempo de apanhar outra melhor, não é? Da mesma maneira, uma pessoa que foi enxovalhada sem razão, tratará de tudo para que a honra lhe seja reposta, que justiça se faça, nem que seja com um atestado passado em cima duma mesa de café, escrito num papel fino a desejar “Bom Apetite”. E o nome? E o emblema? Ouvirás perguntar alguns velhos do Restelo preocupados. E o nome nada, tendo em conta aquilo em que nos estão a transformar seres o clube da nação já tem pouco valor. Quanto ao emblema, quando uma vila sobe a cidade acrescenta-se uma torre ao brasão, tal como quando uma vila desce a aldeia também perde a devida torre. Por fim, alguém que não suporta despedidas, com a frieza que se exige a uma tão recta decisão, evitará sempre ligar-se ao ponto de um dia ser obrigado à tortura de dizer adeus. Portanto não é um adeus, Sporting. Mas é um “então vá, vamo-nos vendo” dito com as mãos nos bolsos e um acenar de cabeça, como quem tenta afastar o mais possível com um movimento inútil. Uma vitória no campeonato? Oceano? Vercau... Quem? Não. Assim, não. Resolução Juventus 2006 contigo. Terapia de choque. Estou farto de ser de um clube que me põe infeliz, para isso tenho as notícias e o projecto a solo do Kalú. Qualquer dia quando quiser saber notícias tuas em vez de ler um jornal vou ao Olx. Não pode ser, Sporting, eu não uso o Olx e tu também não devias. Eu sei que os teus amigos gostam muito de dizer que não é só futebol mas lamento informar-te: é só futebol. Sem futebol esmigalham-se ainda mais as esmolas para as outras modalidades, que tirando a honra das vitórias rendem tanto como um licenciado em antropologia em casa dos pais. Se assim é o que é, sem a voluntariedade anciã das outras modalidades seria como estares num programa de cozinha num Renault 5, com a Sónia Brazão a cozinhar e o Angélico a conduzir. Não te dou explicações, não é que não tas deva mas ser de um clube não se explica, é só estúpido e belo mas por agora já chega. Agora que penso, até fico com mais tempo para outras coisas e para ti é indiferente. Bem vistas as coisas talvez seja o melhor para os dois, assim como assim hei-de saber sempre onde encontrar-te. Fica descansado, a lâmpada não fundiu, foi desatarraxada e o candeeiro desligou-se porque agora vai para o sótão mas eu prometo ir limpando o pó. Bom, então olha, vamo-nos vendo. Manda cumprimentos ao Paulinho que o gajo nem deve andar a dormir bem.

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