sexta-feira, 1 de outubro de 2010

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Algum dia teria de ser. Quer dizer, ter não tinha mas foi e logo hoje e ainda bem e que se lixem os 23% de IVA e o governo nojento que temos e o Medina Carreira sempre cheio de razão e com cara de Mr. Magoo todo recostado no fundo da cadeira parece um garoto, o raio do velho. Eu quero é o Sporting em forma e de boa saúde, como hoje contra o Levski. Sim, porque se há algo mais importante que vocês, míseros trabalhadores que qualquer dia até o papel higiénico racionarão, é o meu clube. O facto de observarem impávidos e serenos (as greves como sabem até dão jeito às sextas-feiras mas de pouco servem e, por isso, não contam) os vosso ordenados a serem constantemente violados qual rapazinho branco numa prisão do Bronx, não interessa agora. Fica para depois que o Manuel Alegre até deve ter aí alguma preparada, já debaixo de olho e tudo, daquelas tiradas mesmo a arrasar. Tipo Need for Speed: Hot Pursuit mas numa versão mais proletária. Uh, espectacular adoro carros e velocidade. Também podia adorar a luta de classes mas aquele igualitarismo todo aborrece-me. Suivant. O facto de ter sido por cinco é acessório. Podia ter sido só por um que eu nisso sou muito Maradona e no fim prefiro eficácia a beleza - desde que entre, mesmo com o auxílio da mão, em fora de jogo e a dar uma sapatada na cara do guarda-redes por mim tudo bem. Sim, nisso sou como os espanhóis a pescar em costa alheia, marcha tudo e os outros que se lixem. O que aconteceu hoje deixou-me feliz e apesar de no próximo jogo contra o Beira Mar haver a probabilidade de me encher de razão para pegar nuns 20L de gasolina e regar todo o plantel à entrada de Alcochete para depois provar a eficácia da marca Quinas não anula o que se passou hoje em Alvalade. Jogámos bem e apesar do adversário fracote parece-me que o faríamos contra qualquer outra equipa. Finalmente jogámos à bola e isso agradou-me. Os benfiquistas cantam no início do hino do clube que tem um canal que por sua vez tem um programa chamado Couratos e Bifanas, "sou benfiquista e isso me envaidece". Infelizmente não posso dizer o mesmo. Além de não ter bigode não sou trabalhador do sector primário nem alcoólico e tão-pouco sou casado, o que elimina a hipótese de bater na minha mulher (que, caso tivesse e nestas condições, trataria por esposa). Acrescenta-se ainda o facto de o meu clube não me dar razões para tal sentimento. Somos o clube com mais miúdas giras e pessoas com a dentição completa do campeonato mas isso não chega. Com o grau de esquizofrenia que o Sporting apresenta a única coisa de que me poderei envaidecer daqui a uns tempos é ser o gajo mais novo da minha rua a tomar inibidores de dopamina (para os Ruis Patrícios e Lucianas Abreus que aqui passam falo de antipsicóticos, remédios para dói-dóis na cabeça, gugu-dada a vaca faz mu e a galinha corococó, seus burros). Gostei mesmo do jogo de hoje mas não acho que seja o tipo de jogo que faça bem aos adeptos. As pessoas gostam de rotinas, de estabilidade, de constância, de organização e de uma direcção competente e o Sporting (yo, malta que ficou a pensar no Manuel Alegre nesta podem substituir Sporting por país) não conhece nada disto. No entanto, hoje deram logo cinco a zero. Temo que tenha sido à caçador desprevenido que gasta os chumbos todos nas rolas e que quando aparece uma lebre ou um faisão fica a olhar com cara de tanso e a pensar que afinal as rolas não são assim tão engraçadas. O mongolóide defendeu bem, a defesa esteve bem, o meio-campo funcionou e as jogadas de ataque foram fluídas o suficiente. Por muito bom que isto seja é irritante. É irritante porque muitos dos que jogaram hoje são os mesmos que têm vindo a jogar desde o início da temporada, serão bipolares? Ah, e em plena crise, agravada pelos parcos resultados e exibições deprimentes, em que se concentram os esforços e preocupações do director desportivo ( escolha que já por si prova o brilhantismo que lá reina)? Em ganga, claro. Digam-me: isto é ou não merecedor de uns Prozacs? Eu temo pelos jovens sportinguistas, juro que sim e que me caia uma pedra enorme em cima se for mentira. Enorme como quem diz, escusa de ser logo um calhau da praia Maria Luísa. É com enorme custo que imagino os gabinetes de apoio psicológico dessas escolas fora, com filas e filas de miúdos deprimidos e cheios de dúvidas. Os outrora problemas de adolescência como a voz, as miúdas e a roupa certa para cada dia de escola são agora substituídos na vida da garotada sportinguista por dúvidas como saber quais os critérios que o Zapater utiliza para decidir em que jogos vai jogar bem, perceber se o Maniche está mesmo a correr ou se é apenas uma ilusão dada pela alta definição da televisão ou em que dia o Paulo Sérgio decidirá finalmente a equipa titular. Vocês queixam-se do congelamento da progressão na carreira na função pública mas eu é que fico com o coração nas mãos pela incerteza de saber se o merdas do Yannick joga; vocês queixam-se dos cortes nas pensões mas eu é que sei o que custa ser de um clube que de grande só lhe resta o nome de Portugal no emblema. E já nem Portugal é assim tão grande. Pronto, é só isto. Obrigado.

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